Principais Pragas do Milho: Identificação e Manejo
A cultura do milho é essencial para a agricultura em várias partes do mundo, principalmente no Brasil. No entanto, essa planta é frequentemente atacada por pragas que comprometem sua produtividade. Conhecer essas pragas e as estratégias de manejo é fundamental para garantir uma colheita de qualidade e evitar prejuízos econômicos. Abaixo, discutiremos cinco das principais pragas do milho, estratégias de controle e apresentaremos mapas mentais para auxiliar no entendimento das práticas de manejo.
1. Lagarta-do-Cartucho (Spodoptera frugiperda)
A lagarta-do-cartucho é amplamente reconhecida como uma das pragas mais destrutivas da cultura do milho. Esse inseto, em sua fase larval, consome intensamente as folhas, o cartucho (parte interna da planta) e, em infestações severas, até mesmo as espigas. Esse ataque compromete o desenvolvimento da planta, resultando em redução significativa da produção e perda de qualidade nos grãos. Além disso, as lesões abertas criadas pela alimentação da lagarta podem predispor a planta a infecções secundárias por fungos e bactérias.
Sintomas de Infestação
A presença da lagarta-do-cartucho no milho é evidenciada por:
- Perfurações e desfiamento das folhas: As lagartas mastigam as folhas, deixando buracos irregulares e faixas desfiadas, especialmente nas partes mais novas e tenras da planta.
- Danificação do cartucho: Elas penetram na parte interna do cartucho, danificando a região em crescimento e afetando o desenvolvimento das espigas.
- Excrementos visíveis: Outro sinal são os resíduos de excremento, geralmente acumulados na base do cartucho, evidenciando a presença ativa das lagartas.
Esses danos, quando ocorridos em estágios iniciais do crescimento do milho, podem limitar severamente o desenvolvimento da planta, prejudicando o rendimento e, em casos graves, inviabilizando a colheita.
Manejo Integrado da Lagarta-do-Cartucho
Para controlar a lagarta-do-cartucho, é recomendável adotar uma abordagem de Manejo Integrado de Pragas (MIP), que combina métodos biológicos, químicos e a utilização de plantas geneticamente modificadas.
- Controle Biológico
- Uso de parasitoides naturais: O parasitóide Trichogramma pretiosum é uma ferramenta importante no combate à lagarta-do-cartucho. Esse inseto deposita seus ovos dentro dos ovos da lagarta, impedindo seu desenvolvimento e interrompendo o ciclo da praga.
- Predadores naturais: Insetos predadores, como joaninhas e crisopídeos, também auxiliam na redução da população de lagartas ao se alimentarem das fases larvais.
- Controle Químico
- Aplicação de inseticidas específicos: A aplicação de inseticidas deve ser feita de forma criteriosa e em períodos críticos do desenvolvimento do milho, como nas fases iniciais de estabelecimento da cultura.
- Rotação de princípios ativos: Para evitar que a lagarta desenvolva resistência aos inseticidas, recomenda-se a rotação de produtos com diferentes mecanismos de ação. Isso ajuda a garantir a eficácia dos tratamentos e a proteger o potencial de controle químico a longo prazo.
- Cultivo de Variedades Bt
- Milho Bt (Bacillus thuringiensis): Variedades de milho geneticamente modificadas para expressar toxinas de Bacillus thuringiensis (Bt) têm se mostrado extremamente eficazes no controle da lagarta-do-cartucho. Essas plantas produzem toxinas que são letais para a lagarta, mas seguras para humanos e outros animais.
- Manejo de resistência: É crucial adotar práticas que minimizem a chance de a lagarta desenvolver resistência à tecnologia Bt, como o uso de áreas de refúgio. Essas áreas cultivadas com milho convencional ajudam a manter populações suscetíveis à toxina, prolongando a eficácia da tecnologia.
2. Broca-do-Colmo (Diatraea saccharalis)
A broca-do-colmo é uma das pragas do milho, com potencial para causar danos severos às plantas ao perfurar o colmo (caule), onde cria galerias internas que afetam a condução de nutrientes e água. Esse dano estrutural enfraquece a planta, aumentando a suscetibilidade à quebra e reduzindo a produtividade, além de facilitar a entrada de patógenos secundários, que podem piorar o quadro.
Sintomas de Infestação
Os sinais da presença da broca-do-colmo incluem:
- Galerias no colmo: As larvas da broca escavam galerias dentro do caule, que são visíveis ao abrir a haste.
- Quebra e murchamento da planta: Com a estrutura comprometida, as plantas podem murchar ou quebrar em dias de vento forte.
- Redução no crescimento: Plantas infestadas frequentemente apresentam desenvolvimento reduzido devido ao menor fluxo de nutrientes e água.
Esses sintomas se tornam visíveis em estágios mais avançados do ciclo da planta, o que torna o monitoramento prévio essencial para um controle efetivo.
Manejo Integrado da Broca-do-Colmo
A estratégia de manejo integrado para a broca-do-colmo envolve uma combinação de práticas biológicas, culturais e químicas, com foco na prevenção e controle sustentável.
- Controle Biológico
- Parasitoides naturais: A vespa Cotesia flavipes é um parasitóide utilizado com sucesso para o controle da broca-do-colmo. Ela deposita ovos nas larvas da broca, impedindo seu desenvolvimento e interrompendo o ciclo da praga.
- Outros agentes biológicos: Fungos entomopatogênicos, como Beauveria bassiana, também podem ser aplicados para infectar e reduzir as populações de broca-do-colmo.
- Controle Cultural
- Destruição de restos culturais: A broca-do-colmo pode sobreviver em restos de colmos após a colheita. Práticas como a trituração e incorporação ao solo desses restos são fundamentais para reduzir a população da praga no próximo ciclo.
- Rotação de culturas: Alternar o milho com outras culturas, como leguminosas, ajuda a quebrar o ciclo da broca e diminuir sua incidência. Essa prática cultural reduz a disponibilidade de alimento para a praga, dificultando seu estabelecimento.
- Controle Químico
- Uso criterioso de inseticidas: A aplicação de inseticidas deve ser restrita a infestações elevadas, de forma que o impacto sobre os inimigos naturais seja minimizado. O uso de produtos químicos deve ser coordenado com o monitoramento, aplicando-se apenas nas fases mais suscetíveis.
- Rotação de princípios ativos: Para evitar a resistência da praga, é recomendada a rotação de inseticidas com diferentes modos de ação, garantindo que os produtos permaneçam eficazes no longo prazo.
3. Cigarrinha-do-Milho (Dalbulus maidis)
A cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) é uma praga significativa na cultura do milho, não só pelos danos diretos causados pela alimentação nas plantas, mas principalmente por ser o vetor de doenças graves como o enfezamento. Essas doenças, causadas por fitoplasmas e espiroplasmas, afetam a saúde das plantas e comprometem consideravelmente a produtividade. A cigarrinha transmite esses patógenos ao se alimentar das plantas, disseminando o enfezamento rapidamente em lavouras infestadas.
Sintomas do Enfezamento Transmitido pela Cigarrinha
As plantas de milho infectadas pelo enfezamento apresentam sintomas característicos, como:
- Crescimento reduzido: A planta afetada pelo enfezamento apresenta desenvolvimento anormal, com menor altura e vigor.
- Amarelecimento das folhas: As folhas passam a apresentar uma coloração amarelada, principalmente nas bordas e pontas, devido à dificuldade na absorção de nutrientes.
- Deformação da espiga: Em estágios avançados, a espiga pode não se formar corretamente, prejudicando a produção de grãos e a qualidade final da colheita.
O enfezamento pode se manifestar de forma mais severa em períodos de alta infestação de cigarrinhas, especialmente quando a praga ataca nos estágios iniciais do desenvolvimento do milho.
Manejo Integrado da Cigarrinha-do-Milho
Para controlar a cigarrinha-do-milho e, consequentemente, reduzir a incidência do enfezamento, é essencial adotar o Manejo Integrado de Pragas (MIP). As estratégias combinam métodos biológicos, resistência varietal e controle químico.
- Controle Biológico
- Inimigos naturais: Diversos predadores e parasitóides auxiliam no controle das populações de cigarrinhas, alimentando-se dos ovos e larvas. Joaninhas, crisopídeos e aranhas são alguns dos predadores que podem ser incentivados na lavoura para auxiliar no controle biológico.
- Conservação de áreas de refúgio: Áreas com vegetação nativa e manejo controlado promovem o desenvolvimento de inimigos naturais, criando um ecossistema equilibrado que ajuda a manter as populações da cigarrinha sob controle.
- Resistência Varietal
- Variedades de milho resistentes: O uso de variedades de milho geneticamente resistentes ao enfezamento e à cigarrinha é uma estratégia importante. Essas variedades são menos suscetíveis à infecção por fitoplasmas e espiroplasmas, reduzindo o impacto da doença na produção.
- Rotação de cultivares: Alternar entre diferentes variedades de milho com características de resistência ajuda a dificultar o estabelecimento da praga e a reduzir sua população no campo.
- Controle Químico
- Aplicação criteriosa de inseticidas: Em casos de alta infestação de cigarrinhas, o uso de inseticidas pode ser necessário, mas é importante aplicá-los nos estágios iniciais do crescimento do milho, quando a planta é mais vulnerável. O controle químico deve ser feito de forma estratégica e monitorada para evitar a resistência da praga e proteger os inimigos naturais.
- Rotação de princípios ativos: Para evitar que a cigarrinha desenvolva resistência aos inseticidas, é recomendável rotacionar produtos com diferentes mecanismos de ação.
4. Percevejo-Barriga-Verde (Dichelops melacanthus)
O percevejo-barriga-verde (Dichelops melacanthus) é uma praga que representa uma ameaça significativa, principalmente em áreas onde o milho é cultivado logo após a soja. Esse percevejo ataca o milho nas fases iniciais do seu desenvolvimento, sugando a seiva da planta e causando murchamento, perda de vigor e até a morte das plântulas. A infestação pode comprometer seriamente o estabelecimento e o potencial produtivo da lavoura.
Sintomas do Ataque do Percevejo-Barriga-Verde
Os danos causados pelo percevejo-barriga-verde incluem:
- Murchamento das plântulas: O ataque nos estágios iniciais leva ao murchamento das plantas jovens, que ficam enfraquecidas e menos vigorosas.
- Morte de plântulas: Em casos graves, as plântulas podem não resistir ao dano e morrer, reduzindo o estande e a produtividade final do milho.
- Deformação no crescimento: Plantas que sobrevivem ao ataque inicial muitas vezes apresentam deformações e menor desenvolvimento, afetando o rendimento da lavoura.
Esses sintomas são mais comuns no início do ciclo, quando a planta ainda é vulnerável as pragas do milho e está em processo de estabelecimento.
Manejo Integrado do Percevejo-Barriga-Verde
Para controlar o percevejo-barriga-verde, o Manejo Integrado de Pragas (MIP) é essencial, utilizando uma combinação de métodos químicos, culturais e de monitoramento para controle eficiente de pragas do milho.
- Controle Químico
- Aplicação de inseticidas nas fases iniciais: Para proteger o milho nos primeiros estágios de desenvolvimento, a aplicação de inseticidas específicos para percevejos é recomendada. A escolha do inseticida deve considerar o princípio ativo, de forma a garantir uma aplicação eficaz e minimizar impactos ambientais.
- Momento estratégico de aplicação: O controle químico é mais eficaz quando aplicado no momento em que o milho é mais vulnerável, ou seja, logo após a emergência das plântulas. Essa aplicação preventiva ajuda a proteger a lavoura antes que o percevejo cause danos significativos.
- Controle Cultural
- Rotação de culturas: A alternância entre milho e outras culturas, como gramíneas, ajuda a reduzir a presença de percevejos no campo. Como o percevejo encontra abrigo e alimento em restos de soja, a rotação com gramíneas pode ajudar a diminuir a população da praga.
- Manejo dos restos culturais: A destruição ou incorporação ao solo dos restos culturais de soja é uma prática importante, pois reduz o abrigo para o percevejo, diminuindo as populações que passam para a cultura do milho.
- Monitoramento e Amostragem
- Monitoramento constante: Amostragens regulares são fundamentais para identificar a presença do percevejo no campo. Isso permite a tomada de medidas preventivas antes que a praga atinja níveis de infestação prejudiciais.
- Amostragem nas bordas do campo: Em muitos casos, os percevejos se concentram nas bordas das áreas plantadas, especialmente em campos adjacentes a áreas que anteriormente tinham soja. Focar o monitoramento nessas áreas pode facilitar a detecção inicial da praga.
5. Coró (Diloboderus abderus e Outras Espécies de Larvas-Escaravelho)
Os corós, larvas de várias espécies de escaravelhos como o Diloboderus abderus, são pragas subterrâneas que atacam o sistema radicular do milho. Vivendo no solo, essas larvas se alimentam das raízes, comprometendo a absorção de nutrientes e água pela planta, o que resulta em danos ao desenvolvimento e redução da produtividade. Além disso, a presença de corós é favorecida em áreas onde a monocultura e o solo mal manejado fornecem um ambiente propício para o desenvolvimento dessas larvas.
Sintomas do Ataque dos Corós
Os sinais do ataque dos corós incluem:
- Crescimento irregular: Plantas atacadas frequentemente apresentam crescimento desuniforme, pois a absorção de nutrientes e água é reduzida.
- Murchamento e morte das plântulas: Em casos severos, especialmente quando o ataque ocorre em plantas jovens, as plântulas podem murchar e morrer, reduzindo o estande da lavoura.
- Redução da produção: Mesmo plantas que sobrevivem ao ataque podem ter seu desenvolvimento comprometido, resultando em menor produtividade no final do ciclo.
Manejo Integrado dos Corós
O controle dos corós envolve um manejo integrado que inclui métodos biológicos, culturais e o tratamento preventivo de sementes. Esse conjunto de práticas contribui para a redução da população das larvas no solo, mitigando os danos ao sistema radicular das plantas de milho.
- Controle Biológico
- Fungos entomopatogênicos: A utilização de fungos como Beauveria bassiana no controle biológico dos corós tem se mostrado eficaz. Esses fungos infectam as larvas, penetrando sua cutícula e causando sua morte. O uso de fungos entomopatogênicos pode ser aplicado em áreas onde a infestação é recorrente, contribuindo para o controle sustentável das pragas do milho.
- Controle Cultural
- Rotação de culturas: Alternar o cultivo de milho com outras culturas, como leguminosas, quebra o ciclo de desenvolvimento dos corós, reduzindo a população de larvas no solo.
- Manejo do solo: A prática de arações e gradagens, além da incorporação de matéria orgânica, ajuda a expor e controlar as larvas presentes no solo, tornando o ambiente menos propício para a praga.
- Incorporação de restos culturais: Restos de colheitas podem servir de abrigo para os corós. A destruição adequada desses resíduos contribui para reduzir a população da praga no campo.
- Tratamento de Sementes
- Inseticidas específicos: O tratamento de sementes com inseticidas direcionados para o controle de pragas de solo é uma prática eficaz na proteção inicial das plantas contra os corós. Esses inseticidas atuam sobre as larvas presentes no solo, proporcionando proteção nas fases iniciais e promovendo o estabelecimento saudável das plântulas.
- Aplicação preventiva: Como os corós atacam o sistema radicular logo no início do desenvolvimento do milho, o tratamento de sementes é uma medida preventiva importante, assegurando a proteção da planta durante esse período vulnerável.
Conclusão
A adoção de práticas de manejo integrado de pragas (MIP) é essencial para o controle efetivo das pragas do milho, pois permite reduzir a aplicação de produtos químicos e preservar o equilíbrio ecológico no campo. Cada uma das pragas mencionadas requer monitoramento constante e a escolha adequada de técnicas de manejo, combinando controle biológico, cultural e químico para melhores resultados. Com a prática de MIP e a utilização de variedades resistentes, o produtor pode otimizar o cultivo do milho, protegendo a produtividade e a qualidade da lavoura.
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