Principais pragas da cultura da soja
O Brasil é um dos maiores produtores de soja do mundo, e o manejo eficiente das pragas da cultura da soja é essencial para assegurar a produtividade e qualidade do grão. Esse artigo foca nas pragas mais importantes da soja, detalhando suas características, ciclos de vida, estágios de desenvolvimento da planta afetados, além dos métodos de controle e do Manejo Integrado de Pragas (MIP).
1. Lagarta-da-Soja (Anticarsia gemmatalis)
Características
A Lagarta-da-Soja, ou Anticarsia gemmatalis, é uma das pragas mais comuns e destrutivas da cultura da soja. Essa lagarta é facilmente reconhecida pela sua coloração verde e as listras longitudinais ao longo do corpo, que variam em tonalidades do verde ao marrom, com uma leve mancha escura em cada segmento abdominal. Nos estágios iniciais, as lagartas são menores e têm coloração mais clara, mas à medida que se desenvolvem, podem atingir entre 3 a 5 cm de comprimento e se tornam mais escuras. Essa praga tem preferência pela parte superior da planta, onde encontra folhas jovens e tenras para consumo.
Ciclo de Vida
O ciclo de vida da Lagarta-da-Soja, da fase de ovo até a fase adulta (mariposa), leva em média de 20 a 30 dias, dependendo das condições climáticas, com temperaturas quentes favorecendo o desenvolvimento mais rápido. A mariposa adulta coloca seus ovos nas folhas de soja, preferencialmente nas partes mais baixas da planta. Em condições ideais, uma única fêmea pode depositar até 300 ovos em grupos, os quais eclodem em cerca de 3 a 5 dias. As lagartas passam por 4 a 5 estágios larvais (instares) até atingirem o tamanho máximo, quando se preparam para a pupação. A maior incidência da lagarta ocorre na fase vegetativa da soja, principalmente em regiões de clima tropical.
Danos
As lagartas consomem intensamente as folhas, formando orifícios grandes e irregulares. Nos estágios mais avançados de infestação, a desfolha pode comprometer até 30-40% da área foliar, afetando gravemente a capacidade fotossintética da planta. Esse consumo excessivo de folhas limita o crescimento e desenvolvimento da soja, reduzindo a produtividade e o enchimento dos grãos. A fase crítica para controle é quando as lagartas estão nos primeiros instares, pois o consumo de folhas aumenta drasticamente nos estágios finais.
Controle
Controle Químico
Uso de Inseticidas: Para o controle da Lagarta-da-Soja, recomenda-se o uso de inseticidas específicos para a fase larval. O clorpirifós é um dos produtos mais usados, pois age no sistema nervoso da lagarta, causando paralisia e morte rápida. A aplicação deve ser feita de acordo com a recomendação técnica, respeitando as doses indicadas e o intervalo de carência, que é o tempo necessário entre a aplicação e a colheita para garantir a segurança alimentar.
Rodízio de Ingredientes Ativos: Para evitar a resistência das lagartas aos inseticidas, é essencial alternar o uso de ingredientes ativos diferentes. O uso prolongado de um único produto pode levar ao desenvolvimento de populações resistentes, comprometendo a eficácia do controle químico.
Técnicas de Aplicação: A aplicação deve cobrir bem as folhas, especialmente as superiores e intermediárias, onde as lagartas geralmente se alimentam. É importante também considerar as condições climáticas, evitando aplicações em dias de chuva ou com vento forte.
Manejo Integrado de Pragas (MIP)
Controle Biológico com Parasitoides: O uso de parasitoides, como o Trichogramma spp., é uma das principais estratégias do MIP para a lagarta-da-soja. Esse inseto parasita os ovos da lagarta, interrompendo seu ciclo de vida antes mesmo de se tornarem larvas. O Trichogramma é liberado no campo em momentos estratégicos, principalmente na fase inicial da cultura, para evitar que a praga atinja níveis de dano econômico.
Uso de Bacillus thuringiensis (Bt): O Bt é uma bactéria utilizada no controle biológico por liberar toxinas específicas que afetam o sistema digestivo das lagartas, levando-as à morte. A aplicação do Bt é mais eficaz quando as lagartas estão nos primeiros estágios larvais, pois a toxina age melhor em indivíduos menores. O Bt é uma alternativa eficaz e segura, uma vez que não afeta insetos benéficos e contribui para a redução do uso de inseticidas.
Monitoramento e Tomada de Decisão: O MIP exige um monitoramento constante das lavouras. O uso de armadilhas e amostragens semanais ajuda a identificar o início de uma infestação, permitindo o controle precoce de pragas da cultura da soja. As decisões de controle químico devem ser tomadas com base no nível de dano econômico (NDE) da lagarta, que é o ponto em que o custo de controle é igual ao prejuízo causado pela praga. Em geral, recomenda-se o controle quando a desfolha atinge entre 15% e 20% nas fases vegetativas.
2. Percevejo-Marrom (Euschistus heros)
Características
O percevejo-marrom, Euschistus heros, é um dos principais percevejos que atacam a soja no Brasil. Este inseto é caracterizado por sua coloração marrom uniforme e um corpo achatado e ovalado, com uma estrutura de aproximadamente 1,2 cm de comprimento. Ele possui uma “espinha” entre as pernas posteriores e um escutelo que cobre parcialmente as asas, características que facilitam sua identificação em campo. Durante o manejo, é importante observar que o percevejo-marrom se esconde na parte inferior das folhas e nas bainhas das plantas, especialmente em condições de calor extremo.
Ciclo de Vida
O ciclo de vida do percevejo-marrom é de aproximadamente 40 dias, variando conforme a temperatura e umidade do ambiente. A fêmea é capaz de depositar entre 100 a 200 ovos ao longo de sua vida, em pequenas fileiras na parte inferior das folhas da soja. Após cerca de 5 dias, os ovos eclodem, dando origem às ninfas, que passam por cinco instares antes de atingirem a fase adulta. A população de percevejos aumenta substancialmente durante as fases de enchimento de grãos da soja, pois essa é a fase em que encontram maior disponibilidade de alimento e causam mais danos à planta.
Danos
O percevejo-marrom perfura vagens e grãos com seu aparelho bucal do tipo sugador, o que causa murchamento e reduz a qualidade do grão. As lesões no grão resultam em um aspecto chocho e enrugado, gerando perdas de peso e de qualidade para a comercialização. Esse dano direto, além de diminuir o peso da produção, pode causar abortamento de vagens e infecções secundárias por fungos. A presença de percevejos durante o período de enchimento de grãos é especialmente danosa, pois pode impactar significativamente o rendimento final.
Controle
Controle Químico
Uso de Neonicotinóides e Piretroides: Inseticidas neonicotinóides e piretroides são recomendados para o controle do percevejo-marrom. Eles atuam no sistema nervoso do inseto, promovendo paralisia e morte. No entanto, o uso desses produtos deve seguir um manejo adequado para evitar o desenvolvimento de resistência. A aplicação é recomendada em intervalos controlados e dentro do nível de dano econômico (NDE), que considera a quantidade de percevejos e o potencial de dano para justificar o custo da aplicação.
Respeito ao Intervalo de Carência e Rotação de Ingredientes Ativos: É essencial observar o intervalo de carência (período entre a aplicação e a colheita) para evitar resíduos no produto final. Além disso, é recomendado fazer a rotação de ingredientes ativos para prevenir a resistência dos percevejos aos inseticidas.
Manejo Integrado de Pragas (MIP)
Introdução de Predadores Naturais: Um dos métodos mais eficazes no MIP para controlar o percevejo-marrom é a introdução de percevejos predadores, como o Podisus nigrispinus. Esse predador se alimenta dos percevejos-praga, reduzindo a população de maneira natural e sustentável. Além disso, a liberação de inimigos naturais não impacta outras espécies benéficas no ecossistema da lavoura.
Monitoramento Contínuo: O monitoramento frequente é essencial para identificar a presença e o crescimento da população de percevejos. A utilização de amostragens de campo e o cálculo do NDE (por exemplo, presença de 2 a 4 percevejos por metro de linha) são fundamentais para determinar o momento exato de intervenção, reduzindo o uso desnecessário de inseticidas.
Cultivares Tolerantes e Manejo Cultural: A escolha de cultivares de soja com maior resistência aos percevejos é uma estratégia preventiva dentro do MIP. Além disso, práticas culturais, como o manejo correto dos restos de cultura e a rotação de culturas, contribuem para reduzir a proliferação do percevejo-marrom e outras pragas da cultura da soja.
3. Mosca-Branca (Bemisia tabaci)
Características: Pequeno inseto de coloração branca, facilmente reconhecido por seu corpo recoberto por um fino pó branco. É vetor importante de várias viroses, representando uma ameaça considerável às culturas agrícolas.
Ciclo de Vida: Com ciclo de vida entre 20 e 30 dias, a mosca-branca se prolifera rapidamente, principalmente em condições de temperaturas quentes, favorecendo surtos populacionais.
Danos: Este inseto suga a seiva das plantas, o que provoca murchamento, queda na produtividade e redução na qualidade das plantas. Além disso, é responsável pela transmissão de doenças viróticas, como o mosaico dourado, que causa sérios prejuízos econômicos.
Controle:
Manejo Integrado de Pragas (MIP): Envolve a utilização de armadilhas adesivas amarelas para monitorar e reduzir a população, juntamente com agentes biológicos, como o parasitoide Encarsia formosa, que ataca a mosca-branca de maneira eficaz e sustentável.
Controle Químico: Recomendado o uso de inseticidas específicos, sempre com alternância de ingredientes ativos para evitar o desenvolvimento de resistência.
4. Lagarta-Helicoverpa (Helicoverpa armigera)
Características
A lagarta-Helicoverpa, Helicoverpa armigera, é uma praga altamente destrutiva que atinge várias culturas, incluindo a soja. As lagartas apresentam uma coloração que varia do verde ao marrom, com listras longitudinais ao longo do corpo que podem ser mais ou menos intensas dependendo do estágio de desenvolvimento. Essa lagarta possui uma cabeça marrom-escura, e o corpo é coberto por pequenos pelos e manchas, tornando-a mais difícil de identificar em meio à vegetação. Nos estágios iniciais, as lagartas são menores e mais claras, mas tornam-se maiores e escuras, com até 4 cm de comprimento, à medida que se aproximam da fase de pupação.
Ciclo de Vida
O ciclo de vida da Helicoverpa armigera é de aproximadamente 30 dias, sendo fortemente influenciado por condições de temperatura e umidade. O clima quente e seco acelera seu desenvolvimento, o que torna essa praga ainda mais prevalente em períodos de verão. A fêmea adulta é uma mariposa capaz de depositar entre 500 a 1500 ovos em sua vida, distribuídos nas folhas, flores e vagens das plantas. Após a eclosão dos ovos (cerca de 3 a 5 dias), as lagartas passam por seis instares antes de entrar na fase de pupação. Durante esse ciclo, as lagartas migram para partes da planta que oferecem mais nutrientes, tornando-se um desafio para o controle pragas da cultura da soja.
Danos
As lagartas causam danos consideráveis perfurando as vagens e alimentando-se das sementes em desenvolvimento. Essas perfurações tornam os grãos menos viáveis para comercialização e podem levar a infecções secundárias por fungos e bactérias. Os danos diretos incluem redução da produtividade e qualidade da colheita. Além das perdas econômicas imediatas, a presença de Helicoverpa armigera representa uma ameaça à sustentabilidade das lavouras, já que populações altas podem se estabelecer rapidamente e ser resistentes a diversos tipos de controle.
Controle
Controle Químico
Uso de Inseticidas à Base de Spinosade ou Indoxacarbe: Os inseticidas à base de spinosade e indoxacarbe são eficazes no combate à lagarta-Helicoverpa, atuando sobre o sistema nervoso da praga e causando morte rápida. A aplicação deve ser feita preferencialmente nos estágios iniciais da infestação para evitar danos graves à lavoura. Como a Helicoverpa armigera tem potencial para desenvolver resistência, é essencial seguir as recomendações de dosagem e realizar aplicações conforme o nível de infestação identificado.
Alternância de Produtos Químicos: Para minimizar a resistência, recomenda-se a alternância de produtos com diferentes modos de ação. O uso repetido do mesmo inseticida pode levar ao desenvolvimento de populações resistentes, reduzindo a eficácia dos produtos químicos ao longo do tempo.
Manejo Integrado de Pragas (MIP)
Manejo Biológico com Baculovírus e Bacillus thuringiensis: O uso de agentes biológicos é uma estratégia fundamental no MIP. O baculovírus atua especificamente nas lagartas, causando uma infecção que se espalha rapidamente entre elas, enquanto o Bacillus thuringiensis (Bt) libera toxinas que atacam o sistema digestivo das lagartas jovens, levando-as à morte. Ambos são seguros para outros insetos benéficos e para o meio ambiente.
Plantio Intercalado com Culturas Atrativas a Predadores: Uma estratégia eficaz para reduzir a população de Helicoverpa armigera é o plantio intercalado com culturas que atraem predadores naturais, como crisopídeos e tesourinhas, que ajudam a controlar a população de lagartas de forma natural. Culturas como girassol e milheto, quando plantadas ao redor ou entre as linhas de soja, atuam como barreiras que reduzem a migração das pragas da cultura da soja para a lavoura.
Monitoramento Frequente e Amostragem de Campo: O monitoramento constante da população de Helicoverpa é essencial para detectar infestações iniciais e evitar danos econômicos. Armadilhas de feromônio podem ser usadas para monitorar a presença de mariposas adultas, sinalizando o momento ideal para intervenção. Em conjunto com o monitoramento de pragas secundárias, essa prática ajuda na tomada de decisões sobre o uso de inseticidas e no planejamento do manejo biológico.
Tabela Detalhada de Pragas
Esta tabela será mais completa, com informações adicionais sobre o ciclo de vida, condições climáticas que favorecem o desenvolvimento e regiões de maior incidência:
Praga | Parte Afetada | Fase do Ataque | Controle Químico | Controle Biológico |
---|---|---|---|---|
Lagarta-da-Soja | Folhas | Fase vegetativa | Clorpirifós, piretroides | Trichogramma spp., Bacillus thuringiensis |
Percevejo-Marrom | Grãos | Enchimento de grãos | Neonicotinóides, piretroides | Podisus nigrispinus |
Mosca-Branca | Folhas, vagens | Todas as fases | Inseticidas sistêmicos | Encarsia formosa (parasitoide) |
Lagarta-Helicoverpa | Folhas, vagens | Floração e frutificação | Spinosade, indoxacarbe | Baculovírus, Bt |
Conclusão
A integração de práticas tradicionais e do MIP no controle de pragas da cultura da soja é crucial para maximizar a produtividade e minimizar o impacto ambiental. A escolha de métodos apropriados de controle e monitoramento contínuo garantem que as pragas sejam mantidas sob controle sem comprometer a sustentabilidade da cultura.
Referências
AGROLINK. Soja. Disponível em: https://www.agrolink.com.br/culturas/soja/. Acesso em: 1 nov. 2024.
SOARES, L. R.; ALMEIDA, J. P. O controle biológico de pragas na soja. Revista de Ciências Agrárias, v. 10, n. 2, p. 85-96, 2021. Disponível em: https://www.revistasoajournal.com/soja-pragas. Acesso em: 1 nov. 2024.
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