Novas Variedades de Cana-de-Açúcar Aumentam Rendimento e Lucratividade em até 37%

A cana-de-açúcar é uma cultura de extrema importância para a economia brasileira, destacando-se na produção de açúcar, etanol e bioenergia. Recentemente, avanços no melhoramento genético têm proporcionado o desenvolvimento de novas variedades que aumentam o rendimento e a lucratividade em até 37%. Este artigo explora essas inovações, abordando as principais variedades, práticas de manejo para maximizar a produtividade e as perspectivas do mercado sucroenergético.
Avanços no Melhoramento Genético da Cana-de-Açúcar
O melhoramento genético da cana-de-açúcar tem sido fundamental para o aumento da produtividade e sustentabilidade da cultura. Instituições de pesquisa, como o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) e a Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa), têm desenvolvido variedades com características superiores, como maior teor de sacarose, resistência a pragas e doenças, e adaptação a diferentes condições climáticas e de solo.
Um estudo recente do CTC, baseado em dados de mais de 175 usinas que representam 80% da moagem da região Centro-Sul do Brasil, concluiu que a adoção de novas variedades pode aumentar o rendimento agrícola em pelo menos 20% e gerar ganhos de até 2 toneladas de açúcar por hectare. Variedades desenvolvidas após os anos 2000 apresentam uma performance 20,6% superior em toneladas de açúcar por hectare (TAH) em relação às lançadas na década de 1980. As variedades elite, mais recentes, superam em 36,6% o rendimento de cultivares mais antigas em toneladas de açúcares totais recuperáveis por hectare (ATR).
A Ridesa, formada por dez universidades federais brasileiras, também tem contribuído significativamente para o desenvolvimento de novas variedades. Desde 1992, o Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-Açúcar da Universidade Federal do Paraná (UFPR), integrante da Ridesa, já desenvolveu dez variedades e, em 2021, liberou outras quatro. Essas novas cultivares apresentam elevado teor de sacarose, diferentes ciclos de colheita e adaptação a vários tipos de solos e ambientes.
Universidade Federal do Paraná –
Principais Variedades de Cana-de-Açúcar
Diversas variedades de cana-de-açúcar têm se destacado no cenário agrícola brasileiro, cada uma com características específicas que atendem a diferentes necessidades de cultivo e produção. A seguir, algumas das principais variedades:
RB867515: Desenvolvida pela Universidade Federal de Viçosa, é uma das variedades mais plantadas no Brasil. Destaca-se pela alta produtividade, resistência a pragas e excelente adaptação a diferentes tipos de solo.
RB966928: Desenvolvida pela UFPR, apresenta alta resistência a doenças como a ferrugem e bom rendimento agrícola. É a segunda variedade mais cultivada no país, estando presente em 14% da área nacional cultivada com cana-de-açúcar. Universidade Federal do Paraná –
IACCTC07-7207: Desenvolvida pelo Instituto Agronômico (IAC), essa variedade apresenta produtividade 27% superior à variedade padrão RB867515, devido à sua elevada população de colmos. É adaptada a diferentes regiões canavieiras do Brasil e possui excelente adaptação ao plantio mecânico. visaoagro.com.br
IACSP02-1064: Também desenvolvida pelo IAC, é uma variedade precoce com alta produtividade e adaptação a diversas regiões. Acumula elevada sacarose e pode ser colhida por um longo período da safra, de abril a setembro. Apresenta excelente estabilidade, tornando viável sua utilização em diferentes solos e regiões canavieiras do Brasil. visaoagro.com.br
RB056380: Desenvolvida pela UFPR, destaca-se pelo elevado teor de sacarose e é recomendada para cultivo em ambientes de alta a média fertilidade. Possui ciclo precoce, podendo ser colhida no início da safra. Universidade Federal do Paraná –
Práticas de Manejo para Maximizar a Produtividade
A adoção de novas variedades deve ser acompanhada de práticas de manejo adequadas para maximizar a produtividade e a rentabilidade dos canaviais. O manejo correto, alinhado ao potencial produtivo de cada ambiente, é crucial para alcançar os melhores resultados. Seguem algumas recomendações:
Escolha da Variedade: Selecionar variedades adaptadas às condições edafoclimáticas da região é fundamental. Variedades modernas, desenvolvidas com processos avançados de seleção, apresentam maior produtividade e resistência a pragas, doenças e mudanças climáticas.
Preparo do Solo: Realizar um preparo adequado do solo, incluindo correção da acidez e adubação conforme as necessidades da cultura, promove um ambiente favorável para o desenvolvimento das plantas.
Plantio: O plantio deve ser realizado em épocas adequadas, utilizando mudas de qualidade e adotando espaçamentos que favoreçam o desenvolvimento das plantas e a mecanização das operações agrícolas.
Manejo de Pragas e Doenças: A implementação de programas de monitoramento e controle integrado de pragas e doenças é essencial para manter a sanidade dos canaviais. O uso de variedades resistentes, como as variedades Bt, que são geneticamente modificadas para resistir à broca-da-cana, pode reduzir a necessidade de aplicações de inseticidas e proteger a produtividade.
Irrigação: Em regiões com déficit hídrico, a adoção de sistemas de irrigação eficientes, como a irrigação por gotejamento, pode assegurar o suprimento hídrico necessário para o desenvolvimento da cultura, aumentando a produtividade.
Colheita: A colheita mecanizada, além de reduzir custos com mão de obra, permite uma coleta mais ágil e eficiente, especialmente em grandes áreas. Para melhores resultados, é importante ajustar as máquinas para evitar perdas de colmos e danos às plantas, garantindo a qualidade da matéria-prima.
Rotação de Culturas: Praticar a rotação de culturas, especialmente com leguminosas, pode melhorar a fertilidade do solo, reduzir a incidência de pragas e doenças e promover maior sustentabilidade no sistema produtivo.
Reforma do Canavial: O acompanhamento constante da produtividade é essencial para identificar quando uma área precisa de reforma. A renovação do canavial com novas variedades ajuda a manter a produtividade em níveis elevados.
Perspectivas do Mercado Sucroenergético
O mercado sucroenergético brasileiro tem enfrentado desafios e oportunidades, especialmente no contexto global de transição para fontes de energia renováveis. A produção de etanol tem se consolidado como uma alternativa sustentável aos combustíveis fósseis, alinhando-se às metas de redução de emissões de carbono.
Além disso, a cana-de-açúcar tem se destacado na geração de bioenergia, por meio do aproveitamento do bagaço e da palha como fontes de energia elétrica. Essa diversificação da produção aumenta a competitividade do setor e contribui para a sustentabilidade ambiental.
No mercado internacional, o açúcar brasileiro continua sendo um dos principais produtos exportados, com demanda crescente em países como Índia, China e Indonésia. A adoção de variedades modernas e práticas de manejo sustentável pode consolidar ainda mais o Brasil como líder no mercado global.
Considerações Finais
O avanço no melhoramento genético e a introdução de novas variedades de cana-de-açúcar têm sido determinantes para o aumento da produtividade e a competitividade do setor sucroenergético brasileiro. Com tecnologias que permitem maior resistência a pragas, doenças e mudanças climáticas, os produtores têm a oportunidade de obter melhores resultados econômicos e contribuir para a sustentabilidade ambiental.
Aliados às práticas de manejo adequadas e à modernização do setor, esses avanços apontam para um futuro promissor na produção de açúcar, etanol e bioenergia. O Brasil, como líder mundial no cultivo de cana-de-açúcar, deve continuar investindo em inovação e pesquisa para manter sua posição de destaque no mercado global.
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