Forrageiras para gado de leite no Brasil
A produção leiteira no Brasil é uma atividade agrícola de grande relevância, sendo o país um dos maiores produtores de leite do mundo. Um dos pilares dessa produção é a escolha adequada de forrageiras, que impactam diretamente na nutrição, produção e rentabilidade do rebanho. A diversidade climática e geográfica do Brasil demanda a seleção de espécies adaptadas a cada região, levando em conta fatores como teores de proteína, sistemas de manejo, adaptação ao clima e solo, além do custo-benefício. Este artigo aborda as melhores forrageiras para gado de leite em diferentes regiões do país, destacando suas características nutricionais e práticas de manejo.
1. Região Sul
A região Sul, composta pelos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, possui clima subtropical e temperado, o que favorece o uso de gramíneas temperadas e leguminosas como oção de forrageiras para gado de leite adaptadas ao frio.
1.1 Azevém (Lolium multiflorum)
- Teor de proteína: 12-20%.
- Sistemas de manejo: O azevém é uma gramínea anual de ciclo curto, geralmente utilizada no inverno em sistemas de pastejo rotacionado. Pode ser consorciada com leguminosas como o trevo-branco, melhorando a qualidade da pastagem.
- Adaptação: Alta adaptabilidade ao clima frio do Sul, especialmente em solos de média a alta fertilidade.
- Custo-benefício: É uma das gramíneas mais baratas, com alto valor nutritivo, sendo amplamente usada em sistemas de produção intensivos, embora sua produção seja limitada aos meses frios.
1.2 Capim-elefante (Pennisetum purpureum)
- Teor de proteína: 8-12%.
- Sistemas de manejo: Ideal para o sistema de corte e pastejo, com cortes frequentes para garantir o melhor valor nutritivo. Pode ser usado em pastejo direto ou para ensilagem.
- Adaptação: Adapta-se bem ao clima da região Sul, desde que manejado corretamente em áreas com boa disponibilidade hídrica.
- Custo-benefício: Embora seu custo de implantação seja relativamente alto, seu rendimento forrageiro por hectare é elevado, o que garante bom retorno ao produtor.
1.3 Trevo-branco (Trifolium repens)
- Teor de proteína: 20-24%.
- Sistemas de manejo: Leguminosa perene que é altamente utilizada em sistemas de pastejo rotacionado. Normalmente consorciada com gramíneas, melhora a fertilidade do solo devido à fixação biológica de nitrogênio.
- Adaptação: Adaptada a solos úmidos e frios, sendo muito comum em pastagens mistas na região Sul.
- Custo-benefício: O investimento inicial é mais elevado, mas a fixação de nitrogênio e a melhoria da qualidade da pastagem compensam o custo, resultando em um excelente custo-benefício.
2. Região Sudeste
Composta por Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Rio de Janeiro, a região Sudeste possui clima tropical de altitude, com verões quentes e úmidos e invernos secos. Forrageiras tropicais e algumas subtropicais se destacam.
2.1 Braquiária (Brachiaria decumbens)
- Teor de proteína: 7-12%.
- Sistemas de manejo: Utilizada principalmente em sistemas de pastejo contínuo ou rotacionado. Requer manejo adequado para evitar o superpastejo e a degradação da pastagem.
- Adaptação: Muito adaptada a solos pobres e ácidos, com alta resistência a seca, sendo amplamente utilizada em áreas de topografia acidentada.
- Custo-benefício: De baixo custo de implantação e manutenção, a braquiária é uma forrageira extremamente resistente, porém com menor valor nutritivo em relação a outras opções.
2.2 Capim-Tifton 85 (Cynodon spp.)
- Teor de proteína: 14-20%.
- Sistemas de manejo: Requer manejo intensivo, com irrigação e adubação para manter a produtividade. Ideal para sistemas de pastejo rotacionado e corte.
- Adaptação: Adapta-se bem a solos férteis e ao clima tropical e subtropical. Tem boa resposta à adubação e manejo intensivo.
- Custo-benefício: O investimento inicial em irrigação e adubação é elevado, mas a alta produtividade e qualidade compensam, sendo recomendado para sistemas intensivos de produção de leite.
2.3 Capim-Mombaça (Panicum maximum)
- Teor de proteína: 9-14%.
- Sistemas de manejo: Utilizado principalmente em pastejo rotacionado, requer adubação regular e bom manejo de altura de corte para evitar perda de qualidade.
- Adaptação: Adaptado ao clima tropical, com boa resistência à seca e solos de fertilidade média a alta.
- Custo-benefício: Apresenta um custo de implantação moderado e alta produtividade, sendo uma boa opção para sistemas intensivos e semi-intensivos.
3. Região Centro-Oeste
O Centro-Oeste, que inclui Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e o Distrito Federal, é caracterizado por um clima tropical com uma estação seca bem definida. As pastagens nativas e forrageiras tropicais são predominantes.
3.1 Braquiária brizantha (Brachiaria brizantha)
- Teor de proteína: 7-12%.
- Sistemas de manejo: Recomendada para pastejo rotacionado ou contínuo, com adubação leve para manutenção da produtividade.
- Adaptação: Alta resistência à seca e solos de baixa fertilidade, sendo uma das forrageiras mais plantadas na região devido à sua rusticidade.
- Custo-benefício: Seu baixo custo de implantação e manutenção, aliado à sua resistência, faz com que seja amplamente usada em sistemas extensivos, embora com valor nutritivo moderado.
3.2 Capim-Marandu (Brachiaria brizantha cv. Marandu)
- Teor de proteína: 9-13%.
- Sistemas de manejo: Utilizado em pastejo rotacionado, com controle rigoroso da altura de corte e adubação periódica para garantir produtividade.
- Adaptação: Adaptada a solos de baixa fertilidade, com boa tolerância à seca e resistência ao ataque de cigarrinhas.
- Custo-benefício: De implantação relativamente barata e alta produtividade, é uma das forrageiras mais comuns na região Centro-Oeste.
3.3 Stylosanthes (Stylosanthes spp.)
- Teor de proteína: 14-20%.
- Sistemas de manejo: Leguminosa utilizada em consórcio com gramíneas, ajudando a fixar nitrogênio no solo. Pode ser usada em pastejo contínuo ou rotacionado.
- Adaptação: Muito adaptada a solos ácidos e de baixa fertilidade, com boa resistência à seca.
- Custo-benefício: Seu baixo custo de manutenção, somado à melhoria da fertilidade do solo, torna a Stylosanthes uma excelente opção em regiões com solos pobres.
4. Região Nordeste
A região Nordeste, caracterizada por longos períodos de seca e altas temperaturas, exige forrageiras altamente resistentes à seca e adaptadas ao clima semiárido. É extremante importante escolher uma boa forrageiras para gado de leite que seja adaptada a região.
4.1 Palma Forrageira (Opuntia spp.)
- Teor de proteína: 5-8%.
- Sistemas de manejo: Utilizada principalmente como reserva estratégica para períodos de seca. Requer cuidados para evitar a propagação de pragas, como a cochonilha.
- Adaptação: Altamente adaptada ao clima semiárido, é uma das poucas opções de forragem verde durante a seca prolongada.
- Custo-benefício: Seu baixo custo de produção e alta resiliência a períodos de seca fazem da palma uma opção essencial para a sobrevivência do rebanho na região.
4.2 Capim-buffel (Cenchrus ciliaris)
- Teor de proteína: 6-12%.
- Sistemas de manejo: Utilizado em pastejo rotacionado ou contínuo. Responde bem à adubação, apesar de ser bastante resistente a solos pobres.
- Adaptação: Muito resistente à seca, sendo uma das principais forrageiras no semiárido.
- Custo-benefício: Seu custo é relativamente baixo, sendo ideal para áreas extensivas com pouca infraestrutura de manejo.
5. Região Norte
A região Norte, de clima equatorial, apresenta uma abundância de recursos hídricos e vegetação exuberante, favorecendo o uso de gramíneas tropicais como opção de forrageiras para gado de leite.
5.1 Capim-massai (Panicum maximum)
- Teor de proteína: 10-14%.
- Sistemas de manejo: Requer pastejo rotacionado, com adubação regular. Poss
ui boa resposta à irrigação.
- Adaptação: Adapta-se bem ao clima quente e úmido da Amazônia, sendo uma das forrageiras mais utilizadas na região.
- Custo-benefício: Embora seu custo de manejo seja elevado, a alta produtividade justifica o investimento.
5.2 Capim-piatã (Brachiaria brizantha cv. Piatã)
- Teor de proteína: 7-11%.
- Sistemas de manejo: Utilizado em pastejo contínuo ou rotacionado. Requer adubação para manter a qualidade.
- Adaptação: Boa resistência ao excesso de chuvas e solos ácidos, sendo uma forrageira versátil para a região.
- Custo-benefício: Seu baixo custo de implantação, aliado à boa adaptação, torna o capim-piatã uma opção de baixo custo para sistemas de produção leiteira no Norte.
6. Capim-elefante para Produção de Silagem
O capim-elefante (Pennisetum purpureum), além de ser uma excelente opção para pastejo e corte, destaca-se como uma das melhores forrageiras para gado de leite, mas na produção de silagem, sendo amplamente utilizado em diversas regiões do Brasil. Essa gramínea tropical tem alta produção de matéria seca e pode ser uma alternativa eficaz para garantir alimentação de qualidade durante os períodos de escassez de pasto, como o inverno e a estação seca.
6.1 Teor de Proteína e Valor Nutricional
- Teor de proteína: 8-12%.
- O capim-elefante, quando utilizado para silagem, apresenta um bom equilíbrio entre produção de biomassa e qualidade nutricional. Embora seu teor de proteína seja inferior ao de outras forrageiras, ele ainda proporciona uma fonte energética importante devido à elevada produção de matéria seca.
- A qualidade da silagem depende do estágio de corte. O ponto ideal para a ensilagem ocorre quando a planta atinge entre 1,8 a 2,5 metros de altura, momento em que há um bom equilíbrio entre o teor de fibra e energia.
6.2 Sistemas de Manejo para Silagem
- O corte para a produção de silagem deve ser feito entre 90 e 120 dias após o plantio ou o último corte, dependendo das condições climáticas e de manejo.
- A ensilagem do capim-elefante requer o uso de aditivos, como farelo de milho ou polpa cítrica, para melhorar o processo de fermentação, uma vez que essa forrageira pode apresentar alto teor de umidade no momento da colheita, o que prejudica a conservação.
- Para obter uma boa compactação no silo e evitar perdas de qualidade, é fundamental picar o capim em partículas de 1 a 2 cm de comprimento e garantir uma compactação eficiente.
6.3 Adaptação e Crescimento
- Adaptação: O capim-elefante adapta-se bem às condições tropicais e subtropicais, especialmente em áreas com boa disponibilidade hídrica. Sua produção é particularmente alta em regiões com precipitação regular, como o Sudeste e o Norte.
- A planta é exigente em termos de fertilidade do solo e responde bem à adubação nitrogenada, sendo recomendável a aplicação de adubos orgânicos ou minerais após cada corte para manter a produtividade.
- Em regiões de clima mais seco, o uso de sistemas de irrigação pode ser necessário para garantir a produção contínua de forragem para silagem.
6.4 Custo-benefício
- O capim-elefante, apesar de exigir um manejo cuidadoso e adubação frequente, apresenta um excelente custo-benefício para a produção de silagem. Sua elevada produção por hectare, aliada à capacidade de fornecer volumoso de qualidade durante o ano todo, é um grande atrativo para os produtores de leite.
- Embora o custo inicial de implantação seja relativamente alto devido à necessidade de preparo do solo e adubação, o retorno em termos de produção de matéria seca e a melhoria da alimentação do rebanho durante os períodos críticos garantem a viabilidade econômica do uso dessa forrageira.
6.5 Vantagens da Silagem de Capim-elefante
- Alta produtividade: O capim-elefante pode produzir até 40 toneladas de matéria seca por hectare por ano, o que o torna uma excelente opção para silagem em propriedades leiteiras de alta demanda por volumoso.
- Boa conservação: Quando bem manejado, o capim-elefante fermenta de maneira adequada no silo, mantendo suas propriedades nutricionais ao longo do tempo, desde que o teor de umidade seja controlado.
- Flexibilidade de uso: Além de ser utilizado para silagem, o capim-elefante pode ser aproveitado para pastejo e corte, oferecendo ao produtor uma planta multifuncional e estratégica para a alimentação do rebanho.
A silagem de capim-elefante é uma excelente alternativa para garantir a alimentação contínua e de qualidade para o gado leiteiro, especialmente durante os períodos de seca ou escassez de pastagem. Com um bom manejo e adição de aditivos para corrigir o excesso de umidade, essa forrageira proporciona uma solução eficaz, produtiva e de baixo custo em termos de produção de volumoso. Seu uso é altamente recomendado em sistemas intensivos e semi-intensivos, contribuindo para a melhoria da produção leiteira e a sustentabilidade das propriedades rurais.
Conclusão
A escolha das melhores forrageiras para gado de leite depende de uma combinação de fatores como o clima, o tipo de solo, a disponibilidade de água e o sistema de manejo. Além disso, o teor de proteína das forragens, a capacidade de adaptação e o custo-benefício são elementos essenciais que influenciam diretamente na produção leiteira e na lucratividade do produtor.
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