Análise de solo e correção

Análise de Solo e Correção

A análise de solo é uma etapa essencial para qualquer projeto agrícola, pois permite ao agricultor entender a composição e a qualidade do solo, possibilitando a tomada de decisões mais assertivas quanto à adubação e correção. Entender como fazer uma análise eficiente é fundamental, já que essa prática auxilia na sustentabilidade da produção, influenciado diretamente nos custos e na produtividade.

1. A Importância da Análise de Solo

O solo é um dos principais componentes de um sistema agrícola, sendo responsável por fornecer os nutrientes necessários para o crescimento das plantas. No entanto, diferentes solos possuem características químicas e físicas diversas, o que impacta diretamente na disponibilidade de nutrientes e no sucesso da lavoura. Dessa forma, a análise de solo torna-se essencial para:

  • Avaliar a necessidade de correção da acidez (calagem);
  • Definir a quantidade adequada de fertilizantes e adubos;
  • Determinar a presença de elementos tóxicos;
  • Identificar deficiências de nutrientes essenciais para o desenvolvimento das plantas.

Realizar a análise de solo regularmente garante que o agricultor esteja sempre atualizado sobre as condições de sua terra, possibilitando uma melhor gestão da fertilidade ao longo do tempo.

2. Mapeamento da Propriedade para Coleta de Amostras

Coleta em zig-zag para análise de solo

Antes de realizar a análise de solo, é necessário coletar amostras representativas da área que será cultivada. A qualidade dessa coleta impacta diretamente nos resultados da análise e, consequentemente, na eficácia das correções e adubações realizadas. Seguir um procedimento adequado de mapeamento e coleta é crucial.

Passo a Passo para Coleta de Amostras

Divisão da Propriedade em Áreas Homogêneas: A propriedade deve ser dividida em áreas com características semelhantes, como tipo de solo, histórico de cultivo e manejo. Isso é importante para que as amostras coletadas representem corretamente cada tipo de ambiente. Se houver variações grandes na topografia ou em culturas anteriores, pode ser necessário subdividir ainda mais.

  1. Identificação dos Pontos de Coleta: O número de pontos de coleta depende do tamanho da área e da variabilidade do solo. Para áreas menores, uma média de 20 pontos por hectare é recomendada, enquanto para áreas maiores ou com mais variabilidade, pode-se aumentar esse número. Esses pontos devem ser bem distribuídos dentro da área homogênea mapeada.
  2. Profundidade da Coleta: A amostra deve ser coletada de diferentes profundidades para fornecer uma visão completa da fertilidade do solo. Para culturas anuais, recomenda-se que as amostras sejam retiradas entre 0 a 20 cm de profundidade. Para culturas perenes, como pomares, pode ser interessante coletar também em profundidades de 20 a 40 cm.
  3. Equipamento Adequado: Para a coleta, é comum o uso de trados ou pás. Em cada ponto de coleta, retira-se uma pequena porção de solo, que será misturada com outras amostras da mesma área homogênea para formar uma amostra composta.
  4. Mistura e Preparação da Amostra Composta: Após a coleta, as amostras de cada área homogênea devem ser misturadas em um recipiente limpo. A mistura deve ser homogênea, retirando-se cerca de 500 g dessa mistura para enviar ao laboratório de análise.
  5. Rotulagem e Envio ao Laboratório: As amostras devem ser rotuladas corretamente, informando a profundidade da coleta, a área correspondente e qualquer outra observação relevante. O envio ao laboratório deve ser feito o mais rápido possível para evitar alterações nas características do solo, como perda de umidade.

3. Interpretação dos Resultados da Análise de Solo

Exemplo de laudo do laboratório Laborsolo – laborsolo.com.br

Após a análise de solo, o laboratório fornecerá um relatório com diversos parâmetros, como pH, teor de matéria orgânica, níveis de nutrientes (nitrogênio, fósforo, potássio, etc.), capacidade de troca catiônica, entre outros. Abaixo estão os principais pontos a serem observados:

Parâmetros Importantes

  • pH: Indica a acidez ou alcalinidade do solo. Solos muito ácidos ou muito alcalinos precisam ser corrigidos para garantir a disponibilidade adequada de nutrientes.
  • Teor de Matéria Orgânica: A matéria orgânica melhora a estrutura do solo e a retenção de água, além de ser fonte de nutrientes.
  • Macronutrientes (N, P, K): Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K) são os principais nutrientes necessários para o crescimento das plantas.
  • Micronutrientes (Cu, Zn, Mn, Fe, etc.): São essenciais em menores quantidades, mas sua deficiência pode prejudicar o desenvolvimento da cultura.

4. Correções de Solo

Análise de Solo e Correção

Com os resultados da análise de solo em mãos, é possível planejar a correção do solo, que geralmente envolve a calagem (para ajustar o pH) e a adubação (para suprir a necessidade de nutrientes).

4.1. Calagem

A calagem é a aplicação de calcário para elevar o pH de solos ácidos, tornando o ambiente mais favorável para a absorção de nutrientes. O cálculo da quantidade de calcário a ser aplicada depende dos seguintes fatores:

  • pH do Solo Atual: Obtido na análise de solo;
  • Saturação por Bases (V%): A saturação por bases desejada varia de acordo com o tipo de cultura. Para a maioria das culturas anuais, busca-se uma saturação por bases entre 60% e 70%.

A tabela abaixo exemplifica a quantidade de calcário necessária para elevar o pH de acordo com a saturação por bases:

Saturação por Bases Atual (%)Saturação Desejada (%)Quantidade de Calcário (toneladas/ha)
40%60%2,0
50%60%1,5
60%70%1,0
Tabela para recomendação de calagem.

4.2. Gessagem

Além da calagem, a gessagem pode ser necessária, especialmente em solos que apresentam alta saturação de alumínio. O gesso agrícola, rico em cálcio e enxofre, ajuda a corrigir o perfil do solo em profundidade, promovendo a descompactação e a melhor infiltração de água.

4.3. Adubação

A adubação é a aplicação de fertilizantes para fornecer nutrientes ao solo. O tipo e a quantidade de adubo dependem das necessidades identificadas na análise de solo e do tipo de cultura que será plantada.

4.3.1. Adubação Fosfatada

A adubação fosfatada é necessária quando o teor de fósforo no solo é baixo. A quantidade de fósforo a ser aplicada depende do nível identificado na análise. A tabela a seguir mostra as recomendações de fósforo conforme a análise de solo:

Teor de Fósforo no Solo (mg/dm³)Nível de Fósforo no SoloAdubação Recomendável (kg/ha de P2O5)
< 5Muito Baixo120
6 a 10Baixo90
11 a 20Médio60
> 20Alto30
Tabela de para recomendação de adubação com fósforo.

4.3.2. Adubação Potássica

O potássio é outro nutriente essencial para o crescimento das plantas. A tabela abaixo mostra as recomendações de adubação potássica:

Teor de Potássio no Solo (mmolc/dm³)Nível de Potássio no SoloAdubação Recomendável (kg/ha de K2O)
< 1,5Baixo80
1,6 a 3,0Médio60
> 3,0Alto40
Tabela para recomendação de adubação potássica.

5. Adubação Orgânica

Adubação orgânica

A adubação orgânica consiste na adição de materiais orgânicos ao solo, que, ao serem decompostos por microrganismos, liberam nutrientes essenciais para as plantas. Esses materiais podem ser obtidos de diversas fontes, como:

  • Esterco animal: De bovinos, suínos, aves, entre outros;
  • Compostos vegetais: Restos de culturas, folhas, galhos triturados;
  • Compostagem: Material orgânico decomposto sob condições controladas;
  • Lodo de esgoto tratado: Resíduo rico em matéria orgânica e nutrientes;
  • Adubos verdes: Plantas cultivadas e incorporadas ao solo para enriquecer a matéria orgânica.

Os adubos orgânicos fornecem não apenas macronutrientes como nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K), mas também micronutrientes (como boro, zinco, ferro) e promovem a melhoria das características físicas e biológicas do solo, como a retenção de água e o aumento da atividade microbiológica.

5.1. Vantagens da Adubação Orgânica

A adubação orgânica apresenta uma série de benefícios que vão além da simples nutrição das plantas. Entre as principais vantagens estão:

  1. Melhoria da Estrutura do Solo: A matéria orgânica ajuda a melhorar a aeração e a infiltração de água no solo, promovendo um ambiente mais adequado para o desenvolvimento das raízes. Solos enriquecidos com adubos orgânicos apresentam maior porosidade e agregação das partículas, o que evita a compactação e melhora a capacidade de retenção de água.
  2. Aumento da Capacidade de Retenção de Água: A matéria orgânica age como uma esponja no solo, aumentando sua capacidade de absorver e reter água. Isso é particularmente útil em regiões com menor disponibilidade hídrica, onde o solo tratado com adubo orgânico pode ajudar a reduzir a necessidade de irrigação.
  3. Liberação Lenta de Nutrientes: Os nutrientes contidos nos adubos orgânicos são liberados de maneira gradual, conforme a decomposição da matéria orgânica pelos microrganismos do solo. Isso evita a perda de nutrientes por lixiviação (carregamento pela água) e garante uma nutrição mais constante para as plantas ao longo de seu ciclo de vida.
  4. Aumento da Atividade Biológica do Solo: A aplicação de adubos orgânicos estimula a atividade de microrganismos benéficos no solo, como bactérias, fungos e minhocas, que são essenciais para a decomposição da matéria orgânica e ciclagem dos nutrientes. Um solo biologicamente ativo é mais fértil e resistente a doenças.
  5. Melhoria da Fertilidade a Longo Prazo: A adubação orgânica não apenas melhora a fertilidade imediata do solo, mas também contribui para a construção de um sistema agrícola mais sustentável a longo prazo. A aplicação regular de matéria orgânica aumenta o teor de húmus no solo, um componente essencial para a fertilidade a longo prazo.
  6. Redução da Dependência de Insumos Químicos: O uso de adubos orgânicos pode reduzir a necessidade de fertilizantes químicos sintéticos, que, em excesso, podem causar degradação do solo e poluição dos recursos hídricos.
  7. Menor Impacto Ambiental: Além de ser uma prática sustentável, a adubação orgânica ajuda a reciclar resíduos que, de outra forma, poderiam ser descartados no meio ambiente de maneira inadequada. A utilização de esterco e restos de culturas, por exemplo, fecha o ciclo dos nutrientes, reduzindo a pressão sobre os recursos naturais.

5.2. Principais Fontes de Adubo Orgânico

Os adubos orgânicos podem ser classificados de acordo com sua origem e forma de utilização. A seguir estão os tipos mais comuns:

5.3. Esterco Animal

O esterco animal é um dos adubos orgânicos mais usados na agricultura. Ele é rico em nutrientes e matéria orgânica, sendo proveniente de resíduos de bovinos, suínos, aves, entre outros. Cada tipo de esterco apresenta diferentes concentrações de nutrientes:

Tipo de EstercoNitrogênio (N) (%)Fósforo (P2O5) (%)Potássio (K2O) (%)
Bovino0,50,30,5
Suíno0,60,50,4
Aves (cama de frango)1,61,50,9
Tabela sobre a composição do esterco animal.

O esterco deve ser bem curtido antes da aplicação, pois o esterco fresco pode conter altas concentrações de amônia, que podem prejudicar as plantas. A compostagem do esterco também ajuda a eliminar patógenos e sementes de plantas daninhas.

5.4. Composto Orgânico

O composto é o resultado da decomposição controlada de resíduos orgânicos, como restos de culturas, folhas, restos de alimentos, esterco e outros materiais vegetais. Durante o processo de compostagem, os materiais orgânicos são transformados em húmus, uma substância escura e rica em nutrientes.

O composto orgânico apresenta boa relação C/N (carbono/nitrogênio) e fornece nutrientes de maneira gradual, além de melhorar a estrutura e a capacidade de retenção de água do solo. Ele é amplamente utilizado em hortas, pomares e em áreas de produção orgânica.

5.5. Adubação Verde

A adubação verde envolve o cultivo de plantas (adubos verdes) que são posteriormente incorporadas ao solo para aumentar o teor de matéria orgânica e melhorar a fertilidade. Leguminosas, como mucuna-preta, feijão-guandu, crotalária e tremoço, são frequentemente usadas como adubos verdes, pois, além de fornecerem matéria orgânica, são capazes de fixar nitrogênio no solo por meio de associações com bactérias do gênero Rhizobium.

O uso de adubos verdes também ajuda a proteger o solo contra a erosão, manter a umidade e suprimir o crescimento de ervas daninhas.

5.6. Lodo de Esgoto Tratado

O lodo de esgoto tratado, também conhecido como biossólido, é o resíduo gerado no tratamento de esgotos. Ele pode ser utilizado como adubo, desde que siga os critérios de segurança e qualidade definidos pelos órgãos ambientais. O lodo de esgoto é rico em matéria orgânica e nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo, mas seu uso deve ser criterioso, pois pode conter metais pesados.

5.7. Como Aplicar a Adubação Orgânica

A forma de aplicação dos adubos orgânicos depende do tipo de cultivo e do material utilizado. Alguns pontos a serem considerados na aplicação são:

  1. Incorporação no Solo: Para culturas anuais, é comum a incorporação dos adubos orgânicos no solo antes do plantio. Isso garante que os nutrientes estarão disponíveis para as plantas durante seu crescimento.
  2. Cobertura: Em cultivos perenes ou em sistemas agroflorestais, a adubação pode ser aplicada em cobertura ao redor das plantas, evitando o contato direto com os caules. Esse método é utilizado, por exemplo, em pomares e cafeeiros.
  3. Irrigação e Fertirrigação: Alguns adubos orgânicos, como chorume de esterco, podem ser diluídos e aplicados por meio da irrigação, conhecida como fertirrigação. Esse método facilita a distribuição uniforme dos nutrientes.

5.8. Limitações

Apesar das vantagens, a adubação orgânica também apresenta alguns desafios:

  • Liberação Lenta de Nutrientes: A decomposição da matéria orgânica ocorre de forma gradual, o que pode não suprir imediatamente as necessidades de culturas de rápido crescimento.
  • Volume Necessário: Grandes quantidades de material orgânico são necessárias para fornecer os mesmos níveis de nutrientes que um fertilizante químico concentrado.
  • Equilíbrio Nutricional: O teor de nutrientes nos adubos orgânicos pode variar, sendo necessário complementar com fertilizantes minerais em alguns casos.

Em resumo, a adubação orgânica é uma prática valiosa na agricultura, promovendo a sustentabilidade, a saúde do solo e a proteção ambiental. Ela deve ser vista como parte de uma estratégia de manejo integrado da fertilidade do solo, em combinação com outras técnicas agrícolas.

6. Considerações Finais

A análise de solo é uma ferramenta poderosa para o manejo sustentável das propriedades agrícolas. Ao entender as necessidades do solo e aplicar as correções e adubos de forma adequada, o agricultor garante uma maior produtividade e longevidade para suas culturas. Além disso, o uso correto de insumos contribui para a preservação ambiental, minimizando o desperdício e evitando a contaminação do solo e da água.

Sobre o Autor

Rafael Consultor Agronomia
Rafael Consultor Agronomia

Especialista em Vants e Drones com foco em agricultura de precisão.

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